quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A ESCRAVIDÃO CAPITALISTA


         Mesmo depois de dois séculos de capitalismo, ainda é preservada uma mentalidade bastante comum na história da economia. Tal ideia possui raízes na insatisfação com o trabalho e na "exploração" capitalista. Se antes era uma preocupação referente à escravidão, hoje é referente às jornadas superiores a nove ou oito horas de trabalho e aos salários que não permitem a compra de automóveis caros e roupas de grife.

         O capitalismo foi uma marco importantíssimo para a redução da jornada de trabalho. Não foram exclusivamente pressões sindicais ou movimentos grevistas que fizeram o salário do trabalhador aumentar ou a sua jornada de trabalho diminuir. Se antes as pessoas eram escravizadas e passavam a vida toda (enquanto não recebiam a carta de alforria ou não morriam) trabalhando para imperadores, senhores e ditadores, o contrato de trabalho passa a ser, com o advento do capitalismo, uma negociação e não uma imposição. Como greves ou pressões sindicais poderiam gerar resultados tão significativos, já que "existia um exército industrial de reserva elevadíssimo"? Isso só seria possível em um sistema onde a grande maioria das pessoas estivesse empregada e onde a produtividade fosse tal que permitisse a elevação da massa salarial sem prejuízo geral das empresas ou inflação descontrolada. Esse sistema foi o capitalismo. A melhoria nos lucros, a agilidade para produzir com novas máquinas, o aumento de pessoas começando um próprio negócio para concorrer com outras e deixando de depender de um patrão, a criação de novos mercados geradores de mais comodidade e menos consumo de tempo, e tudo o mais que você possa imaginar com relação à eficiência, trouxe uma gradativa possibilidade de reduzir o tempo dedicado ao trabalho, no aumento do tempo disponível para lazer, e na redução dos preços em decorrência do menor suor gasto para se produzir, pois as novas técnicas e as máquinas faziam uma boa parte do trabalho.

         Após dois séculos de melhoras consideráveis e uma jornada que hoje chega a seis horas em algumas fábricas com um salário razoável, o velho e irracional mito do "capitalismo escravizador" continua a soar em nossos ouvidos. Como um sistema gerador de economia de tempo pode escravizar? É como dizer que o ventilador surgiu para causar desemprego dos escravos que abanavam suas amas com grandes leques, esquecendo-se de que os ventiladores precisaram ser criados por mãos de trabalhadores. Seria um pensamento timidamente socialista dizer que os ventiladores foram criados magicamente por deuses chamados Máquinas e que caíram de nuvens para causar desemprego massivo... mas iremos nos abster dessas teorias "maquinofóbicas".

         Com a crise de 29 e o advento do receituário intervencionista keynesiano, as reduções progressivas no tempo de trabalho começaram a crescer a taxas bem menores. Em 1847 as jornadas eram de dez horas por dia, e já em 1919 as jornadas foram estabelecidas em oito horas por dia, de acordo com as diretrizes da Organização Internacional do Trabalho. Um questionamento que se pode fazer é a naturalidade com que vemos empresas expandindo desesperadamente as jornadas de trabalho para além das conquistas dos trabalhadores conseguidas até o início do século XX. O que levou a esse retorno em vários setores? A própria expansão do Estado sufocando cada vez mais o setor privado. É comum vermos empresas que fazem de tudo para não verem seus trabalhadores parados e ociosos, exigindo muitas vezes que façam jornadas superiores ao disposto em contrato. Isso é um erro? Sim, pois viola um contrato. Porém, isso não é culpa do capitalismo e sim uma consequência da limitada quantidade de empresas capitalistas, da burocracia asfixiante sobre o setor privado, e do excesso de funcionários públicos e gastos com assistencialismo. Como manter o mesmo nível de trabalho com um governo que se apropria indevidamente (sem contar o roubo indireto) da metade dos seus rendimentos e que o impede de crescer usando barreiras burocráticas cada vez mais variadas? A "solução" keynesiana adotada a partir da Grande Depressão foi um dos próprios combustíveis da "escravidão moderna" do excesso de trabalho, quando não do endividamento gigantesco das nações mais desenvolvidas, pois além de gastar/desperdiçar dinheiro retirado do setor privado, alguns teóricos visavam controlar as falhas de mercado. Eles só não imaginavam que as falhas de governo seriam muito mais danosas que as naturais falhas de mercado.

         O maior motor da geração de empregos e da redução real da jornada de trabalho é o crescimento da concorrência e da inovação. Quando a concorrência cresce livremente a partir de novos empreendimentos, cresce também a demanda por trabalho. Quando o governo cria barreiras substanciais ao empreendedorismo e, além disso, alimenta uma máquina pública de trabalhadores ociosos (estes geralmente são os únicos protegidos da escravidão), o resultado é catastrófico: melhorias produtivas deixam de ser desejadas e o que se gera é comodismo.

         É preciso ter em mente que escravidão e trabalho assalariado são coisas distintas. No modo de produção escravista se trabalha para não morrer (ou por obrigação), enquanto que no capitalismo o empréstimo da força de trabalho é uma opção a se tornar um empresário. Na dificuldade de conseguir capital, encontra-se uma empresa diferente para trabalhar ou uma alternativa que exige investimento ínfimo, até mesmo de alguns poucos reais. Quando o Estado torna-se demasiadamente pesado, impedindo a concorrência e a liberdade, não restam muitas opções ao trabalhador: ou torna-se submisso às poucas empresas apadrinhadas pelo próprio Estado ou deverá se contentar com a triste sina em que hoje vivem milhões de brasileiros: o desemprego.

        Portanto, o capitalismo não "escraviza". Ele causa conforto e gera mais comodidade (e não comodismo, como faz o socialismo). O que realmente escraviza é a falta de capitalismo, a falta de inovação, e a subserviência a um governo destrutivo e sem escrúpulos. Enquanto o mito do capitalismo escravizador for preservado, continuaremos em um cabo de guerra desnecessário com o real inimigo da liberdade das pessoas: a mentalidade socialista.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

AJUSTE OU ENXUGAMENTO FISCAL?


    Não há lógica alguma em reclamar da necessidade de ajustes fiscais na economia, apenas da estrutura do ajuste. A crise atual é causada quase exclusivamente pelo excesso de crédito concedido a setores privilegiados e pela falta de poupança. O governo motiva investimentos ruins, os empresários (iludidos) movimentam grande soma de recursos para mão-de-obra e capital, e quando as frustrações daquela oferta monetária artificial batem à porta, só resta às empresas reduzirem os projetos, as construções, os empregos, e as novas inversões. 

      Estamos sim vivendo uma crise de superprodução, mas ela é desencadeada principalmente pela ineficácia pública na concessão de crédito, subsídio e financiamento. Além dessa bolha gerada nos setores "campeões" do BBB do governo, há uma imensa massa reclamando supostos "direitos sociais", setores burocráticos no serviço público gritando por salários bem acima da produtividade, grupos exigindo aumento de impostos (é, existe esse tipo de gente) etc. Sim, a crise também é causada pelas regalias que alguns chamam de "direitos sociais" e valorização (forçada) do salário. Infelizmente a oposição (PSDB, e até algumas vezes o próprio DEM) tenta ganhar a fama de oposição boazinha por esconder a realidade dos olhos do povo, mas tudo o que se tem feito é uma tentativa de enxugamento da máquina pública, não uma monstruosidade sobre direitos do trabalhador.

      A dispersão das bolhas de crédito para outros setores ocorre justamente porque setores como construção civil ficam com todo o "bolo" de recursos que são desviados de outros segmentos mais produtivos (e também do trabalhador) através de impostos e tarifas diversas. Isso termina causando falta de recursos para outros setores, inflação dos preços de produtos escassos (por conta dos produtos que deixaram de ser produzidos por conta da exclusividade dada pelo governo a alguns segmentos nacionais) e redução dos salários reais. Eu sou um ferrenho crítico do PT, mas me enche o saco ver a oposição dizendo "populisticamente" que agora o PT quer acabar com os direitos do trabalhador. Não, os direitos do trabalho já foram destruídos, agora precisamos restaurar o poder de compra e a possibilidade de escolha das pessoas, pois esse sim é um real direito de todos.